Os riscos e lições para Portugal do novo coronavírus
- Movimento Pensar Portugal
- 3 de jul. de 2020
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Henrique Martins, ex-presidente dos Serviços Partilhados do Ministério de Saúde (SPMS), foi afastado da entidade responsável pela SNS24 dois dias depois de ter avisado o Ministério da Saúde de que o serviço corria risco iminente de colapsar. Recorde-se que já não é o primeiro despedimento no governo de Costa. Aliás, quando há problemas, este executivo tem uma certa tendência para o despedimento do responsável dos serviços. Já estamos habituados… Mas, diga-se, não serve de nada porque a raiz do problema continua lá e chama-se: ineficiente gestão de recursos e irresponsabilidade.
De todos os entrevistados nas televisões e jornais (médicos de renome, entre outros…) de um modo geral temos visto sempre uma conduta passiva e, na minha opinião, demasiado optimista no que toca ao coronavirus. Esta é uma ameaça real e Portugal não está preparado para ela. Não vale a pena andar com rodeios, nem tentar fugir à questão-chave, porque não estamos. E o motivo prende-se com o enorme desinvestimento a que temos assistido na saúde, o que é preocupante.
Ora vejamos o caso da linha SNS24: O orçamento investido na entidade responsável pela linha SNS 24 caiu de 90,4 M€ em 2018 para 76,3 M€ em 2020. Foram menos 14,1 M€ em apenas dois anos, para uma área prioritária. Os resultados estão à vista, já que no dia de maior procura na linha, 25% das chamadas não foram atendidas. Sem dinheiro, não se consegue prestar um serviço, nem de qualidade, nem sem ela, simplesmente não se presta. É o que está acontecer. As queixas contra a linha SNS24 sucedem-se, desde chamadas que ficaram por atender, a várias pessoas que contactam com alta probabilidade de estarem infectadas e que são incentivadas a manter o dia-a-dia normal. Tudo em prol de evitar o chamado alarmismo social e de provar que o governo consegue dar conta da questão. Eu chamo-lhe irresponsabilidade.
Na segunda-feira, o SPMS informou a ministra da saúde, que era necessário “uma ação urgente de mais equipas de enfermagem na manhã seguinte “, ao qual o governo responde com o despedimento do responsável. Em declarações, Henrique Martins considerou que o seu afastamento “ só pode ter sido [fruto do] incómodo “ pelos vários avisos que enviou ao Ministério da Saúde. Foi um despedimento em vão, de muito mau tom, que revela uma clara falta de preparação para lidar com uma situação de calamidade pública.
Já no que toca ao SNS: Todos sabemos que tem sido alvo de um brutal desinvestimento ao longo dos anos. Apesar da situação do país ser economicamente mais favorável, Costa não tem sabido reverter o descalabro do SNS e insiste em culpar o anterior governo CDS/PSD.
Como forma de conter a contestação o governo anunciou para o OE deste ano um reforço para o SNS, mas é suficiente? A Federação Nacional dos Médicos diz que claramente não. Os problemas mais prioritários da área ficam por resolver.
Para Jorge Roque Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, a falta de investimento no SNS é “ escandalosa” quando comparada com outros sectores, como o bancário, e acusa o governo de ter o “ menor investimento público da zona euro, só ultrapassado pela Grécia”.
No SNS faltam pessoal e meios, capazes de dar resposta a um número elevado de infectados. A situação já foi denunciada pela Federação Nacional de Médicos, que não poupou críticas à actuação do governo.
A Europa está a encarar o coronavirus como um teste à sua capacidade de gerir crises. Portugal deve encará-lo como um alerta vermelho para reforçar o investimento nas áreas da saúde.
A opinião de: Inês Fernandes, Movimento Pensar Portugal
Fonte: Jornal económico, Observador e Revista Sábado
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