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Somos todos Amazónia

A Amazónia continua a arder, mas em Portugal sofre-se do mesmo mal. Este ano já somos o 5º país com maior área ardida de toda a União Europeia e desde há 30 anos consecutivos que somos o país mediterrânico que mais arde. Uns números impressionantes e que fazem pensar que por cá está muita coisa mal

Perante uma Amazónia em chamas e o olhar incrédulo de quem assiste, bem podemos afirmar: Somos todos Amazónia. E somos todos Amazónia, primeiro porque as áreas verdes, são pertença de toda a humanidade e, depois, porque sofremos todos do mesmo mal que assola aquela região.


A Amazónia arde, mas não arde em vão, nem de forma imprevisível. Tudo isto conjugado é uma grande chamada de atenção. Já sabemos que os povos são solidários em momentos de calamidade, mas, sejamos francos, isso pouco resolve. Temos de ir ao cerne da questão, ao mal de tudo isto. Se o leitor for a pensar não é difícil descobrir. A razão mora mesmo ao seu lado, e afeta desde as pequenas aldeias às grandes cidades: uma política incompetente, desinteressada e viciada. É um problema geral.


Em Portugal já é quase tradição ver a floresta arder e desaparecer. O fogo não leva só floresta, leva com ele a imagem de um país, que a cada ano fica mais desfigurado. Já perdemos muito de Portugal e ainda vamos perder muito mais, se o status quo político não mudar.


Ao longo dos anos a classe política sempre desdenhou os assuntos da floresta, da agricultura e das gentes que dela vivem, reservando migalhas do orçamento de estado para esse efeito ou desviando os fundos comunitários para outras matérias. Ou porque não são assuntos interessantes, ou porque não ficam bem nos grandes outdoors das campanhas pré-eleitorais o interior sempre foi votado ao abandono e entregue à sua sorte. O resultado está a vista de todos. No quadro de toda a União Europeia, Portugal ocupa sempre um dos primeiros lugares no que toca à área ardida anualmente. Uma situação preocupante, mas que fica fora das estatísticas dos nossos dirigentes. Ainda o ano de 2019 não acabou e o quadro já é alarmante e, ao mesmo tempo, surpreendente: já somos o quinto país da UE com maior área ardida em 2019. Como é que tal é possível, e admissível, depois dos incêndios de Pedrogão Grande? Isto só pode significar um falhanço redondo da classe governativa.


No fundo, tal como a Amazónia, sofremos todos pelos erros de alguns perante muitos. Enquanto no Brasil, o “pulmão do mundo” é desde há várias décadas intensamente desflorestado por motivações políticas e sociais de vária ordem e sofre agora brutais incêndios com origem em mão humana, em Portugal por detrás dos milhares de hectares que nos últimos anos têm sido consumidos fala-se em fogo posto por interesses de madeireiros ou de empresas exploradoras de lítio. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, descarta responsabilidades e acusa as ONG de incendiarem deliberadamente aquela região para o prejudicar; já em Portugal atribuem-se culpas aos governos anteriores e fala-se de uma nova reforma, com algumas polémicas pelo meio, mas sem estratégia, o que já levou a que especialistas na matéria tenham vindo dizer que as medidas verdadeiramente necessárias ainda estão por aplicar.


É pena a classe política não perceber que um bom governante se mede pelas suas ações pensadas a longo prazo e não pelas mais imediatas.


Nota: A Amazónia continua a arder todos os dias, apesar de o volume de notícias e declarações alarmadas sobre o tema ter abrandado.


A opinião de: Inês Fernandes

Movimento Pensar Portugal

 
 
 

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